OBJETIVO GERAL

OBJETIVO GERAL: Criar e fortalecer comunidades eclesiais missionárias enraizadas na Palavra de Deus e nas realidades da diocese, tendo a missão como eixo fundamental.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

“A SAUDADE NÃO MATA, MAS ... MALTRATA”

Caro e Reverendo Dom João Kot, OMI,

alguns dias atrás, o senhor me enviou um e-mail e, já no fim, fez-me o pedido de escrever uma cartinha contando do primeiro ano de Bispo emérito vivido na Itália. O primeiro ano completou-se no dia 8 de novembro.

Aproveito o pedido e tento escrever algumas emoções que vivi neste ano. É também uma ocasião para desejar a toda a Comunidade da Diocese de Zé Doca (Bispo, Padres, Frades, Religiosos, Religiosas e Leigos e Leigas) um bom sucesso na Assembleia Diocesana de Pastoral e também desejar a todos, presentes na Assembleia ou não, desde já um feliz Natal. Com um só tiro... alcanço e resolvo diversos deveres. 

Demorei um pouco a cumprir com o compromisso porque foram dias meio corridos e de compromissos. Fui à Roma (Grottaferrata e Frascati) para a Beatificação da Madre Maria Teresa Casini, fundadora das Oblatas do Coração de Jesus; fui para agradecer em nome meu pessoal e em nome da Diocese, embora sem o “mandato”: essa Congregação me recebeu na minha chegada ao Brasil, em São Luís e acompanhou a mim e à Diocese com muitos trabalhos pastorais e de administração ao longo de muitos anos e, agora, em Nunes Freire. Merece todo nosso agradecimento.

Fui a Verona para a abertura do ano Bicentenário da fundação da Congregação das Filhas da Sagrada Família: essa Congregação também sempre acompanhou a nossa Diocese e a Paróquia Catedral ao longo de muitos anos e está ainda presente; manifestei o meu agradecimento grande e sincero e da Diocese de Zé Doca com a Celebração, que presidi, na Casa Madre em Verona.  

Tive muitas Celebrações de Crismas em Paróquias da Diocese de Torino... 

Fui também visitar os parentes e estou prestando um serviço a dois Párocos que administram 4 Paróquias...; sempre tem uma ou outra substituição a fazer. E de 22 a 27 deste mês irei participar dos Exercícios Espirituais com os Bispos do Piemonte (que, aliás, ainda não conheço todos!!) em Spotorno, perto de Savona, na beira do mar Tirreno. Aproveitarei também a ocasião para visitar e agradecer a Irmã Kiara Rossi, de 82 anos, Irmã da Congregação das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia, que trabalhou bastante tempo em Carutapera, como professora muito estimada e amada, com Mons. Mário Racca, e está doente. Também a essa Congregação irei agradecer bastante. Somente Deus sabe quanto nos ajudaram na evangelização.

Lá vão algumas reflexões.

Completou, poucos dias atrás, o meu primeiro ano de Bispo emérito da Diocese de Zé Doca. 


Depois do dia 8 de novembro de 2014, data da Posse da Diocese por parte de Dom João Kot. OMI, eu vivi algumas semanas na Diocese de Castanhal, na companhia do Bispo Dom Carlo Verzeletti, amigo de longa data. Lá tive a oportunidade de relaxar um pouco. Mas quis me colocar à disposição do Bispo de Castanhal para eu não “mofar”: o trabalho na Catedral e em outras Paróquias de Castanhal me ajudou a realizar suavemente a passagem de um trabalho com responsabilidade em primeira pessoa para um trabalho de apoio e sem compromissos administrativos e programáticos. Acho que foi bom e agradeço a Deus. Fui muito bem recebido pelo Bispo e pelo Presbitério e com todos criou-se um bom relacionamento. Nesse tempo em Castanhal tive a alegria de receber visitas de amigos Padres e Leigos/as de Zé Doca como também do novo Bispo Dom João. Obrigado a todos. Alegraram-me bastante estas visitas. De vez em quando batia a saudade de Zé Doca e, sobretudo, do povo daquela Diocese: coisa mais do que normal depois de quase 40 anos vividos partilhando alegrias, sofrimentos, preocupações, sucessos, insucessos... afinal a vida completa. Experimentei a verdade do ditado: “A saudade não mata, mas ela maltrata”. É mesmo assim.

Aos meados de dezembro 2014 viajei para Itália com as minhas duas malinhas: no tempo que passei no aeroporto de Belém, na espera do voo para a Itália, passou, na minha cabeça, o filme dos 40 anos de Sacerdote “Fidei Donum” doados com entusiasmo ao povo do Maranhão: Carutapera (pouco mais de um mês, onde comecei a abrir os olhos sobre a verdadeira realidade do Nordeste); Luís Domingues (primeiro amor e primeira Paróquia: dificuldades da nova língua a ser usada, dificuldades materiais: falta de energia elétrica durante cinco anos: uso desconhecido da rede para dormir; falta de estradas: descoberta da baixa e alta-maré acontecendo duas vezes por dia enchendo e vazando e regulando literalmente a vida de todos; falta de água potável e a conseguinte necessidade de usar o famoso filtro de louça, objeto para mim desconhecido até então; caminhadas de pé na floresta para visitar os povoados (uma vez até nos perdemos na mata); primeiro projeto da Escola de Trabalho de mecânica, de carpintaria, de Clube das mães; escolinhas para 120 crianças; surgimento da Cidade de Amapá com escolinha para 240 crianças; construção em Amapá da Capela e das casas para o Padre e para as futuras Irmãs... 

Depois vivi um trecho de vida (três anos) em Belém, a serviço dos seminaristas da Diocese de Ponta de Pedras; experiência quinzenal naquela terra da ilha de Marajó – o “inferno” do Brasil, como foi definido pela TV Globo: neste serviço tive a alegria de acompanhar até o Sacerdócio três jovens. 

Em seguida, no filme passou o trabalho de Secretário Executivo da CNBB Regional Nordeste 5, em São Luís do Maranhão: experiência linda a serviço das 12 Dioceses, ampliando o conhecimento da Igreja do Maranhão e, consequentemente, da Igreja do Brasil todo na participação às Assembleias Gerais da CNBB. Em particular o filme me apresentou os dois grandes encontros a nível regional: “Políticas Públicas” e “Assembleia do Povo de Deus”. No aeroporto de Belém, sentado no mármore à beira do chafariz, na espera..., beh, os Bispos, às vezes, também choram.

E cheguei na Itália, na casa do meu irmão e família, muito bem acolhido. Veio o Natal, veio o fim do ano, veio a Epifania (o carnaval também, mas quase passa despercebido nos pequenas Cidades como a minha, Pertusio – 800 moradores apenas), e veio a escolha para o meu futuro. Experimentei também que, para quem passou tantos anos fora, não é fácil voltar a viver na Itália, pois precisa voltar a “ser italiano vivendo a cultura italiana”, se despojando da cultura brasileira assumida por tantos anos. Tem que virar “uma nova criatura” para entrar nessa nova realidade e nela pregar o Evangelho de Cristo.

Escolhi de me colocar a disposição de dois Párocos na Cidade de Grugliasco (bem unida à grande Cidade de Torino). 

Hoje vivo na casa paroquial da Paróquia de San Cassiano com o Pároco Don Paolo: ele foi meu Vigário Paroquial em Torino (Paróquia de San Gioacchino) nos anos 1996-2000: agora eu escolhi de me tornar Vigário Paroquial dele, sem compromissos de administração ou de programação, mas simplesmente ajudando para aliviar o muito e importante trabalho dele: catequese dos meninos e formação da juventude (são miliares os jovens que frequentam), os noivos, as famílias jovens... com Retiros e encontros de formação. Procuro ajudar também na outra Paróquia, que ele administra, San Giacomo, e nas outras duas (Santa Maria e San Francesco di Assisi) que o outro amigo Pároco, Don Lorenzo, também administra. 

Todo dia nós almoçamos juntos e, às sextas-feiras, nos encontramos numa reunião com os dois Diáconos permanentes, que vivem na Cidade: é um encontro muito proveitoso de programação pastoral olhando o trabalho a curta e longa distância.

Frequentemente, Párocos das Paróquias da Arquidiocese me convidam para Celebrar o Sacramento da Crisma ou em ocasião de festas particulares: trabalho que faço com prazer, quando posso estar à disposição.

Considero-me muito agraciado por Deus, pois tenho bastante tempo à disposição para ler, confessar, rezar, escrever (é aqui que completei os dois livros de Tombo do trabalho pastoral em Luís Domingues e do tempo do Episcopado em Zé Doca: trabalhos para os Arquivos Paroquial e Diocesano, mas penso oportunos de sugerir um trabalho parecido aos nossos Párocos para que façam esse esforço de historiadores, como antigamente se fazia). 

Dá para perceber que virei um pouco monge: isso não faz mal quando se chega a “escrever” as últimas páginas da própria vida. Pois o tempo está chegando!

A saudade fica e é coisa boa. As lembranças um pouco se apagam. As amizades criadas continuam e é coisa boa. A oração aumenta e é a coisa melhor.

Alegro-me bastante quando leio notícias no Blog da Diocese: sempre coisas que dão gosto porque se percebe um crescimento na vivência cristã do nosso povo. Alegro-me, sobretudo, por conhecer a atividade, o entusiasmo, a vontade pastoral dos nossos Padres, dos Religiosos e das nossas Irmãs orientados/as pelo nosso Bispo Dom João. Alegro-me também por eu ter ajudado um pouco na construção do Reino de Deus nesse pedaço do Maranhão. Deus seja louvado.

Amigos e amigas, desejo uma Assembleia bem aproveitada e rica de trabalho; desejo a todos um Natal muito Feliz.

+ Dom Carlo Ellena
Bispo Emérito da Diocese de Zé Doca


4 comentários:

  1. Dom Carlo...


    Saudades sinceras deste homem de Deus, muito simpatico!!!

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  2. Memórias que emocionam, saudade que aguça, histórias entrelaçadas, amizades solidificadas pela presença fraterna. Obrigada dom Carlo!

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  3. Bom dia dom Carlos hellena, sua trajetória foi marcadas por conquistas que o tempo não apagou
    Eu sou uma das suas ovelinhas🐏que recordo de tudo, todas as alegrias, abrolios. E sua grande conquista de evangelização e de colocar Cristo no coração das pessoas. Recordo com clareza uma pregação do evangelho que ficou gravada na minha mente aqual falava assim ''que uma lamparina não foi feita para ficar de baixo de uma mesa "está pregação foi na igreja do perpétuo socorro, e com essa pregação entendi que a luz de Cristo tinha que brilhar, era sua palavra nos corações. Eu ainda era adolescente. E outra pregação foi feito na praia de boa vistas ''ide pelo mundo e pregai o evangelho a todas criatura "e entendi que todos nós temos que falar que Cristo como tu fizestes muito bem, e até hoje continuo falando deste Cristo que salva liberta e curam.e muito bom ne.tenho que agradecer o muito que que fizestes pelo povo Luiz dominguense e pelas famílias o senhor se recorda da música de padre zizinho a um barco esquecido na praia já não leva ninguém a pescar e o barco de João e Tiago que partiram pra não mais voltar. Quantas vezes em noites sombrias emfrentantando os perigos do mar.

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