Carta dos Bispos do Maranhão
A ser lida em todas as celebrações
Carta dos Bispos do Maranhão
Ao Povo de Deus
e a todas as pessoas de boa vontade
“Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11)
Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas
pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão – a morte violenta da Ana
Clara, criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques
a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o
clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís.
A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É
nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que
está sendo construído.
A agressão está presente na expulsão do homem do campo; na
concentração das terras nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e
periferias de nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em
situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos jovens;
na auto-destruição pelas drogas; na prostituição e exploração sexual; no
desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da
natureza.
Esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e
à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua
maioria negros e pobres.
O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao
contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos
devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas
que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro.
Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do
gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a
tuberculose e a leishmaniose. É verdade que a riqueza no Maranhão aumentou.
Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a desigualdade social. Os
índices de desenvolvimento humano permanecem entre os mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos!
Como discípulos missionários de Jesus, estamos
comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma
sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem
violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11 ) . A cultura do
amor e paz, que tanto almejamos, é um dom de Deus, mas é também tarefa nossa.
Nós, bispos do Maranhão, convocamos aos fieis católicos e a
todas as pessoas que buscam um mundo melhor a realizarem um gesto concreto no
próximo dia 2 de fevereiro, como expressão do nosso compromisso com a justiça e
a paz. Neste dia – Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa
Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades uma
caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às pessoas
comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da celebração
sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência, como sinal do seu
empenho em favor da paz.
Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz,
rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa
responsabilidade social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e
irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na paz.
Centro de Formação de Mangabeiras-Pinheiro - MA, 15 de
janeiro de 2014
Dom Armando Martin Gutierrez – bispo de Bacabal
Dom Carlo Ellena – bispo de Zé Doca
Dom Élio Rama – bispo de Pinheiro
Dom Enemésio Lazzaris – bispo de Balsas
Dom Franco Cuter – bispo de Grajaú
Dom Gilberto Pastana de Oliveira – bispo de Imperatriz
Dom José Belisário da Silva – arcebispo de São Luís
Dom José Soares Filho – bispo de Carolina
Dom José Valdeci Santos Mendes – bispo de Brejo
Dom Sebastião Bandeira Coêlho – bispo de Coroatá
Dom Sebastião Lima Duarte – bispo de Viana
Dom Vilsom Basso – bispo de Caxias
Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges – bispo emérito de
Viana
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