Quanto
a nós, não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos (At 4, 20).
Nós, bispos do Maranhão, reunidos em Zé
Doca, de 16 a 19 de janeiro de 2017, sob a luz do Espírito Santo, queremos
manifestar algumas preocupações referentes ao momento atual.
Ouvimos com apreensão os relatos sobre o
que está acontecendo nas prisões do país. São sobretudo os jovens que mais sofrem com essa situação. São eles
que, em grande parte, superlotam as penitenciárias, sendo que muitos deles nem
sequer foram julgados ou sentenciados. O sistema judiciário apresenta-se como
funcional ao modelo econômico vigente, contribuindo para um genocídio não declarado.
Neste
ano dedicado à juventude, inquietam-nos as consequências que este modelo econômico
traz para os jovens do nosso Estado. Quase 500 mil jovens, com idades entre 15 e
29 anos, nem estudam, nem trabalham, nem têm esperança de estudar ou trabalhar
e, por isso, nem vão mais à procura de oportunidades. Garantir às novas
gerações o direito à educação de qualidade, ao trabalho, ao lazer e à inserção
na vida profissional é papel do Estado democrático e este é, certamente, o modo
mais eficaz de prevenir a violência crescente.
Constatamos com pesar a expansão do
agronegócio, bem visível no programa federal conhecido como MATOPIBA. Apresentado
pela mídia como solução mágica para a agricultura do nosso Estado, este
programa visa ocupar o que resta de Cerrado do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia. Tal tipo de expansão do agronegócio destrói modos de vida originários,
não visa o bem viver da população, expulsa e exclui milhares de pessoas que
viviam da sua produção no campo. O modelo, que se baseia na monocultura da soja,
do eucalipto, da cana-de-açúcar e outras culturas, pode até aumentar o Produto
Interno Bruto-PIB do Estado. Não contribui, porém, para o crescimento do Índice de
Desenvolvimento Humano-IDH, além de ferir de morte o bioma Cerrado. A Campanha
da Fraternidade deste ano nos convida a uma reflexão mais aprofundada sobre
este assunto.
Os povos tradicionais – indígenas,
quilombolas e afrodescendentes, lavradores e pescadores – têm sido as
principais vítimas deste modelo agroexportador. Conforme consta no relatório da
Comissão Pastoral da Terra-CPT, em 2016, foram assassinadas 11 lideranças,
incluindo indígenas. Ocorreram mais de 300 conflitos agrários, com 139 pessoas
ameaçadas, envolvendo 30.691 famílias. O inchamento das cidades, onde há poucas
perspectivas de vida para as famílias pobres, é também um dos resultados da
violenta agressão aos povos da terra.
Como
cristãos, não podemos ficar indiferentes ao que acontece em nossa sociedade. A
Igreja não existe para si mesma, mas para o serviço do Reino de Deus e sua
Justiça, a fim de que haja pão em todas as mesas e vida em abundância para
todos (Jo 10, 10).
Por isso, conclamamos a todos os poderes
estabelecidos, também aos novos governos municipais, a unirem-se no esforço de
solucionar estes problemas apresentados. As lideranças e cidadãos se envolvam e
exijam o funcionamento dos órgãos de controle social e de políticas públicas
inclusivas. Pois somente com a participação de todo o povo, o Maranhão que
desejamos – mais justo, solidário e pacifico – será possível.
Que o Espírito do Cristo libertador
fortaleça nossa esperança na realização desse sonho.
Zé Doca, 19 de janeiro de 2017.
Armando Martín Gutiérrez,
bispo de Bacabal
Elio Rama, bispo
de Pinheiro
Enemésio Ângelo
Lazzaris, bispo de Balsas
Esmeraldo Barreto de
Farias, bispo auxiliar de São Luís
Franco Cuter,
bispo emérito de Grajaú
Francisco Lima
Soares, administrador diocesano de Imperatriz
José Belisário da
Silva, arcebispo de São Luís
José Soares Filho,
bispo de Carolina
José Valdeci
Santos Mendes, bispo de Brejo
João Kot, bispo de
Zé Doca
Sebastião Bandeira
Coêlho, bispo de Coroatá
Sebastião Lima
Duarte, bispo de Viana
Vilsom Basso,
bispo de Caxias
Xavier Gilles de
Maupeou d'Ableiges, bispo emérito de Viana
Achei que nos ultimos 13 anos em que o partido apouado por V.Excias tinha r
ResponderExcluirMas nâo founum período muito promissor o que vivemos ate 2016? Distribuição de terras , vários programas de inclusão social. Bolsa pra estudar enfim como agora me dizem que o Ma tem 500 000 jovens sem rumo? Onde eavavam vcs bispos do Ma durante este tempo?
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