Entre os dias 13 a 17 de junho, o Regional Ne 5 (CNBB) realizou sua 19º Assembleia Regional de Pastoral em São Luis, com o tema: A Igreja no Maranhão e os desafios no mundo urbano.
Para a assessoria da referida Assembléia, contou-se com a presença, do Padre Francisco Aquino Júnior da Diocese de Limoeiro do Norte (CE). Fizeram-se presentes também todos os bispos do Regional e representantes de todas as pastorais regionais e organismos.
De acordo com o Pe. Aquino Júnior, o Brasil se tornou um país fundamentalmente urbano. Praticamente 85% da população brasileira vive em cidades. Se em décadas passadas, a maioria do povo vivia no campo, hoje a imensa maioria da população brasileira vive em cidades, e mais de 50% vive em cidades que tenha acima de cem mil habitantes. Segundo o Aquino Júnior, essa é uma característica do Brasil de hoje; contudo, o problema é que as cidades brasileiras foram construídas historicamente de uma forma profundamente desigual e injusta. O processo de êxodo rural que foi levando milhares de pessoas do campo para a cidade em busca de trabalho, moradia, saúde, escola... Acabou criando uma frustração nessas pessoas que tinham expectativas de melhoria de vida e chegando, não encontraram isso que esperavam, sendo empurradas dessa forma, para as periferias, e áreas de riscos e nunca dispuseram de serviços oferecidos pela cidade. Tal fato foi criando situações ou cidades extremamente desiguais e injustas, de modo que a maioria do povo da cidade, não dispõe dos serviços que a mesma oferece. Vivem em moradias precárias, com falta de saneamento, de saúde, educação, transportes públicos deficientes... Com um contexto de profunda desigualdade social, gerou-se um conjunto de outros problemas na cidade, tais, como: o crescimento de violência que apareceu de diferentes formas e que vai criando todo um ambiente psicológico, social e de insegurança tremenda; os assaltos consistentes dos mais diversos tipos, o medo de ser analfabeto, os conflitos de gangues... E por aí vai. Tem-se no Brasil uma das maiores populações carcerárias do mundo. Toda essa situação que gera insegurança na população. O que vai quebrando os vínculos de solidariedade e ao mesmo tempo, vai criando na sociedade o desejo de ser eliminado. Todos aqueles que são uma ameaça na sociedade. Por isso cresce nas cidades, aquela ideologia alimentada por muitos políticos como Bolsonaro de que Bandido bom é bandido morto e de que aqueles que cometem crimes devem ser alimentados. Com isso está se criando um ambiente em que a vida é sempre uma ameaça. Tudo isso tem como base, este contexto de profunda desigualdade social, porque a maioria do povo esta excluída dos serviços oferecidos de condições de vida digna, de modo que tem-se uma cidade profundamente injusta.
Este foi um dos temas centrais abordado na Assembléia pelo padre Aquino Junior, pois segundo o mesmo, para se passar a ação de Igreja na cidade, precisa-se levar em conta a forma que a mesma esta configurada.
Diante disso, surge uma indagação: Se a igreja continua sendo uma boa noticia para a cidade, até que ponto a fé pode ser elemento de novas relações e partir daí, da nova configuração da cidade?
O Padre Aquino Junior, elencou três aspectos que acha de fundamental importância, para a Igreja seja boa noticia para a cidade, a saber: A voltar ao essencial, o encontro com Jesus no Evangelho do Reino. Investir na formação de comunidades e serviço da comunidade.
Precisa-se voltar ao essencial, ou seja, o encontro com Jesus Cristo, a adesão ao Evangelho do Reino. Tem-se isso igreja de muita devoção e pouca fé e seguimento a Jesus. As (comunidades em geral, vivem em função de praticas devocionais que tem sua importância), mas na medida em que se torna o centro, o essencial vai se perdendo. O essencial é o encontro de Jesus do Evangelho. A fé é um modo de vida fraterna e não pratica de ritos. É o lugar onde se aprende a viver como irmãos a perdoar o outro, a sentir-se próximo de quem sofre, a sentir como nossos os problemas e as dores dos outros.
De acordo com o Padre Aquino Júnior, isso é o que menos conta em nossas comunidades. Tem-se de tudo nas comunidades, terço dos homens, das mulheres, das crianças, mãe rainha, novena das mãos ensanguentadas... E acaba por se ter dificuldade de visitar os doentes e idosos, encarecidos da comunidade. Faz-se necessário pensar a missão da igreja a partir do Evangelho de Jesus. O dogma maior do cristianismo é o amor.
Precisa-se investir na formação de comunidades, (pequenas comunidades) onde seja lugar de oração, vida fraterna, escuta da palavra e da comunidade. A fé não é doutrina, e se traduz em um modo de vida que nos torna irmãos. A comunidade não pode ser o lugar de somente executar atividades, de investir, do culto, mas, sobretudo o lugar que se vivencia a fé, pois sem o enraizamento comunitário, as expressões se tornam superficiais. Investir na formação de pequenas comunidades onde se vivencie esses valores é fundamental.
Serviço da comunidade => a comunidade que não serve aos sofredores, se afastaram de Jesus. Misericórdia é um jeito de ser de Jesus e da sua Igreja, pois ela nos toma afins de Deus.
A opção pelos pobres é teocêntrica, cristológica e pneumológica. Devemos amá-los não porque são bons ou maus e sim porque Deus é bom. Dessa forma, a presença da Igreja na cidade, tem de ter um dinamismo da misericórdia aos mais excluídos. É preciso colocar no coração da Igreja, o que está no Coração de Jesus: os miseráveis desse mundo.
A comunidade deve estar envolvida nos problemas concretos das pessoas, tocar na carne crucificada do Senhor. Neste sentido, todas as atividades são importantes na Igreja, à medida que estão em função do serviço aos outros. Sem a dinâmica da comunidade, perde seu sentido.
Perspectiva pastoral apontada pelo Padre Aquino Junior, é a criação de vários serviços por parte da igreja aos grupos vulneráveis e excluídos. Tais como: serviço de acompanhamento a doentes, a idosos abandonados, serviço de acompanhamento aos encarcerados, da visita e preocupação com a vida deles lá fora, assim como o acompanhamento de processos e das torturas que acontecem nas delegacias de denunciar e defender o direito dos encarcerados. Serviço às mulheres e aos homens que vivem da prostituição, serviço de defesa das pessoas gays, lésbicas, travestis, transexuais que se tem muita dificuldade e preconceito na Igreja, serviços às pessoas com deficiências. Lutos nos bairros por moradia, regularização da terra, por água, por esgoto, por transporte. Serviço de acompanhamento aos catadores de materiais recicláveis, à população de rua, às crianças que moram nas ruas da cidade...
A Igreja precisa criar muitos serviços para atender as necessidades dos pobres e sofredores. Essa é grande boa notícia que ela tem para dar a cidade. A Igreja do Senhor não é a que vive dentro do templo rezando, nem tão pouco a igreja que cultiva muitas devoções e sim, aquele que como Ele, sai ao encontro de quem sofre, sai ao encontro das necessidades das pessoas mais vulneráveis de nossa cidade.
Faz-se necessário voltar ao evangelho de Jesus e descobrimos a grande boa notícia, que somos irmãos e viver isso com alegria, pois não temos muita coisa a oferecer ao mundo, temos o essencial que é o amor, a bondade, a compaixão... A igreja não é uma instituição de investimento religioso, Ela deve ser como disse o Papa Francisco, um oásis da comunidade, da fraternidade. É preciso encontra-se com o Senhor, para encontrar-se com os irmãos e se colocar a serviço de quem mais precisa.
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