Caríssimos e prezados amigos italianos e brasileiros, homens e mulheres,
Desejo a todos um grande abraço e muitos votos respondendo aos numerosos votos de feliz aniversário e em vista das próximas festas de Páscoa. Cristo mais uma vez nos perdoa e nos salva. Cristo ressuscitou. Aleluia.
Hoje pela manhã acordei e vieram ao meu encontro muitos pensamentos, que continuaram a rodar pela minha cabeça:
- Nós italianos novamente estamos em lockdown total: aqui se chama de “zona rossa” com inúmeras restrições que procuramos também observar; penso que as regras e restrições me ajudam frequentemente; não consigo mais decorar quais sejam as coisas para serem observadas;
- Somente sei que devo ficar em casa, no apartamento que a Paróquia de São Cassiano colocou a minha disposição; ele serviu a alguns amigos brasileiros que passaram uns dias por aqui... de passagem: foi uma grandíssima alegria;
- É um luxo se penso como e o que encontrei e vivi nos primeiros meses e anos no meu Brasil (1975- 1993);
- Foi sorte mesma, seja em Luís Domingues como também em Zé Doca (onde fui Pároco contemporaneamente de Luís Domingues, Governador Newton Bello e Zé Doca também). Agradeço a Deus, pois nestes lugares sempre encontrei a bondade e a acolhida de Irmãs; elas cuidavam de mim: da minha alimentação e, juntos, pensávamos e organizávamos os trabalhos pastorais para as semanas vindouras.
- Eu também tenho uma grande vontade de encontrar algumas pessoas amigas, bater um papo amigável e descontraído com elas...;
- A toda hora chegam notícias de morte de amigos, amigas, conhecidos/as, italianos e brasileiros... Normalmente anciãos, meus conterrâneos: tudo faz pensar e refletir, pois tudo acontece em poucos dias. Faz pensar muito o fato da partida para a eternidade sem a possibilidade de receber um gesto qualquer de amor por parte dos filhos ou parentes; tudo em poucos dias de hospital onde não está presente a comunidade familiar ou paroquial, mas somente uns poucos parentes em lágrimas e desespero; até sem nenhuma celebração religiosa quando levados ao cemitério.
- Tudo tão rapidamente: nestes casos “os bispos também choram”, em segredo, engolindo amarguras;
- Na mesma condição se encontram os meninos, os jovens, do nosso Oratório, acostumados ao barulho e à alegria: eles ficam nervosos, estão com uma grande vontade de chutar uma bola, brincar com os amigos, com a vontade de correr e comunicar tantas coisas... enquanto, ao contrário, estão obrigados a passar horas e horas na frente de uma TV para aprender alguma coisa, mas tudo fica tão enjoado e se aprende tão pouco!!!
- Disse que nasce em mim a vontade de abrir as janelas, descer pelas ruas, encontrar rostos amigos e rir, e tocar com a mão que ainda estou vivo.
Por isso comecei a escrever “sem rumo e sem prumo”... tinha vontade de comunicar...
Dia 11 de março recebi a primeira dose da vacina; não houve consequências, não senti nada, aliás, tive até a vontade de perguntar a enfermeira se tinha mesmo aplicado a injeção no músculo do braço; dia 1º de abril fui chamado para a segunda injeção, para ficar completamente imune. Ontem e hoje estou sentindo um pouco de febre: é tudo normal e esperado, graças a Deus.
Depois o meu computador ficou com problemas e por isso não pude responder aos tantos desejos de amigos Bispos, Padres, Diáconos, Religiosas, Religiosos e leigos... que enviaram seus parabéns pelo meu aniversário.
Hoje estou no meu quarto. Lá fora há um vento forte; levantou ontem atrapalhando um pouco a celebração da Missa realizada na frente da Igreja, ao ar livre.
Penso na minha casa, a uns 40 km de Grugliasco; lá vivem uma sobrinha, meu irmão e minha cunhada. Também eles já superaram a doença. Eu não posso ir visitá-los. Os sobrinhos-netos levam a despesa até a porta, dão um alô de longe... e basta. Resolve alguns problemas o celular que parece encher a jornada e dar um pouco de esperança. Espero uma visita depois da Páscoa quando a gente voltará novamente a “viver”... normalmente: e por isso já estou festejando.
A quarentena parece funcionar. Depois voltaremos receber visitas dos filhos, dos sobrinhos, dos parentes... Iremos exclamar “também desta vez saímos vencedores”.
O sol da primavera é mais bonito, mais quente; as montanhas da minha região estão mais brancas pela neve caída durante o período do inverno e parecem mais solenes, as árvores estão floreando e enfeitando ruas, casas, jardins... é uma festa de cores. O ar é mais puro e as visitas se tornam novamente festas bonitas para se viver.
E, nestes últimos dias, chegou o dia 28 de março, dia do meu aniversário de nascimento. Chegaram muitos votos e parabéns pelo telefone, pelo e-mail, pelo WhatsApp e de tantas pessoas com as quais passei muita parte da minha vida de sacerdote.
Confesso que me deixaram muito feliz e levantaram um pouco o astral. Muitos parabéns foram até de consolo: a gente não esperava tantas recordações de momentos felizes que vivemos juntos. Deus foi bom para comigo no trabalho aqui na Itália e também no Brasil. A “saudade” se torna verdadeiramente “o amor que fica”.
Lembranças, lembranças que, às vezes, levam à comoção. Penso de maneira especial as expressões de bondade, serenas e cristãs, de Dom João Kot, OMI, meu bispo sucessor, dos sacerdotes por mim ordenados ou com os quais se trabalhou em pleno acordo pelo Reino. Sobretudo dou graças a Deus.
O agradecimento dos vossos desejos, Bispos, Sacerdotes, Diáconos Religiosos/as e leigos os transformo em oração. Esses dias de Páscoa são importantes na nossa vida cristã. O desejo do coração está cheio de agradecimentos.
Por isso, amigos/as, escrevi estas palavras: para me sentir vivo e perceber mais a vossa amizade. A Páscoa trará ainda mais uma vez o perdão do Senhor e a alegria da Ressurreição.
Desejos e orações para todos.
Dom Carlo Ellena
Bispo emérito de Zé Doca
Caríssimo dom Carlo Ellena como gostei ou amei os seus escritos realmente tinha saudadespois quando estavas conosco, no Regional sempre o senhor escrevia e como escreves bem! Nestes últimos meses tenho pensado que tive a graça de conviver com um anjo de Deus que foi o senhor, quanta saudade! Foi tudo maravilhoso o melhor tempo de minha vida. Não lhe parabenizou dia 28/03 pois meu celular deu problemas mas lembrei, como não poderia lembrar o Sr mora no meu coração que Deus nos dê o prazer de tê-lo ainda por muitos anos conosco
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