CRÔNICA: A PORTA ESTREITA DIANTE DOS ATALHOS DOS DIAS DE HOJE

 

Domingo nos primeiros raios do sol, enquanto alguns se levantam para ir à missa, outros seguem virando de lado na cama, em busca de mais cinco minutos de sono ou talvez a manhã inteira. Nada novo sob o sol, mas hoje, curiosamente, a liturgia vem com um convite bem ousado, podemos dizer: falar da Palavra de Deus a todos os povos e línguas; Diante disso a pergunta que fica é: será que a gente ainda acredita nessa missão?

O profeta Isaías (Is. 66,18-21) fala da Glória do Senhor sendo anunciada até os confins da Terra. Isto é algo bonito e soa até como poético, mas será que é isso mesmo que estamos fazendo com a fé que professamos aos domingos? Ou será que a fé virou mais um acessório, algo refletido numa pulseira de couro ou num terço pendurado no retrovisor?

É neste momento que, Jesus com aquele jeito que nos desconcerta, diz: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita”. A porta estreita. Quem, em sã consciência, opta pela entrada difícil quando o mundo oferece passagens bem largas, iluminadas e cheias de promessas mágicas?

Na prática, a tal porta estreita é por nós muitas vezes evitada a todo custo. Preferimos o evangelho das frases prontas e motivacionais, da bênção garantida e do “receba agora”. Este cristianismo custa pouco e não exige quase nada. Mas Jesus deixa claro: nem todo mundo que diz “Senhor, Senhor entrará no Reino", e aí a coisa complica para nós se realmente formos sinceros.

A Carta aos Hebreus (Hb. 12,5-7.11-13), por sua vez, nos lembra de algo que não gostamos de ouvir: Deus corrige, educa, confronta, e isso dói; É mais fácil pensar em Deus como um Papai Noel eterno do que como um Pai que disciplina, mas é justamente aí que mora o amor, pois amar não é só acolher, é também ensinar — mesmo que o outro resista.

Olhando os dias de hoje podemos dizer que vivemos tempos de cristianismo confortável. Um cristianismo que fala muito e escuta pouco. Que exige dos outros, mas foge da própria conversão. Que quer entrar no Reino, mas se recusa a trilhar o caminho da justiça.

Portanto, a missão de anunciar o Evangelho não é só para padres e missionários. É para o professor, o trabalhador rural, o gari, o motorista de ônibus. É pra quem se dispõe a viver com coerência, mesmo quando a vida insiste em empurrar pro lado mais fácil.

Assim, hoje — mais do que repetir fórmulas ou textos bíblicos — talvez seja hora de nos perguntarmos com sinceridade: por qual porta estamos entrando? Estamos realmente seguindo os passos de Cristo ou apenas fingindo ?

Que a Palavra de Deus no dia de hoje, sempre nos tire do comodismo, sacuda nossas certezas, e nos empurre, ainda que relutantes, na direção d'àquela porta estreita. Afinal, é por ela que se entra no Reino. E o Reino, ao contrário do que se prega por aí, não é para os acomodados, mas para os que ousam amar com coragem.

Uma boa semana a todos.

Crônica por: Pe. Elinaldo Cardoso Nunes

Gov. Newon Bello-MA