HOMILIA
Ordenação Presbiteral de
ELINALDO CARDOSO NUNES
Cândido Mendes, 30 de setembro de
2012
1. A nossa Igreja de Zé Doca, neste ano de 2012, está sendo agraciada com a
ordenação de três Sacerdotes que concluíram os estudos, a formação Oficial
(porque a verdadeira formação nunca acaba, todos sempre estamos em estado de
formação). A experiência pastoral nas periferias de São Luís e numas das nossas
Paróquias: a nós nos parecem prontos para abrir as asas e iniciar o grande vôo
pelo qual se prepararam: a grande e bonita aventura do Ministério ordenado a
completo serviço dos fiéis.
2.
O Seminário foi um momento – quero dizer: anos – de bastante reflexão,
de trabalho formativo junto com os formadores, de oração. Não sempre foi fácil
porque a formação exige também cortar na própria carne para modificar atitudes,
aceitar rumos novos, disciplina que freqüentemente mortifica a nossa liberdade
e a nossa vontade. Mas o trabalho e os resultados estão aí, na frente do povo
de Deus. Nos pareceu a nós e nos parece que o Espírito Santo aprova e aprovou
os resultados, que ainda não terminaram e estão ainda imperfeitos, mas estão
bem encaminhados: todos sabemos que a formação de todos nós é contínua e só
termina com a morte. Aí será o bom Deus que nos aprovará na nossa formação e no
nosso trabalho. Mas um trabalho bonito e sério foi feito no Seminário: é o que
nos alegra e dá a garantia humana e moral da preparação em vista do Sacerdócio.
3.
Ontem foi o Márcio Junior que se tornou Padre; hoje é a vez do
companheiro dele Elinaldo a ser Ordenado. Estão cheios de poderes: consagrar a
Eucaristia, perdoar os pecados, ser anunciadores da Palavra de Deus... cheios
também de deveres: oração que se concreta na reza do Ofício Divino rezado todos
os dias para eles mesmos, para os fiéis e para a Igreja toda; trabalho
desinteressado; dedicação total e irrestrita ao povo a eles confiado pela
Igreja. Não faltará a ajuda de Deus, do Espírito Santo que continua trabalhando
de forma incansável na Igreja. Não faltará a amizade sacerdotal do Presbitério,
quer dizer do Bispo e dos outros Padres da nossa Diocese. Não faltará a oração
constante do povo de Deus das Paróquias, dos Seminários, Religiosos/as e dos
familiares. Por isso dá para começar esta caminhada, confiar nos bons
resultados... tudo para a Maior Glória
de Deus, como dizia Santo Inácio de Loyola.
4.
Se ontem à noite, na homilia pela Ordenação do Padre Márcio Junior aqui
presente, eu quis frisar a dimensão mais importante do sacerdote da Igreja
Católica, que é a evangelização, hoje gostaria me deter sobre a atitude
essencial do Sacerdote, atitude que faz dele o verdadeiro sacerdote de Cristo
que imita o Mestre e se torna ele mesmo um “alter Christus”, um outro Cristo.
- Estou me
referindo à atitude essencial do sacerdote: o serviço, a disponibilidade, o
sentir com os fiéis as mesmas dores e as mesmas alegrias.
- Estou me
referindo ao fato que o Sacerdote não é tal para si mesmo, e sim para o povo.
- Estou me
referindo ao fato que o Sacerdote não pode e não deve viver isolado, ilhado,
preocupado apenas em si e nos seus
interesses. Ele é feito para os outros. São Paulo, na I Coríntios, 3,5 escreve:
“Pois o que é Apolo? O que é Paulo? Não passam de servidores, pelos quais
chegastes à Fe”. Numa palavra: o Sacerdote é servidor do Evangelho.
5. Domingo passado Jesus, se dirigindo aos Apóstolos que “tinham discutido
quem era o maior..., chamou os doze e lhes disse: se alguém quiser ser o
primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos. Em seguida,
pegou uma criança, (a criança naquele tempo representava os mais desamparados,
pobres, desprotegidos) colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: Quem
acolher em meu nome uma destas crianças é a mim que estará acolhendo. E quem me
acolhe está acolhendo não a mim, mas aquele que me enviou” Mc 9,35.
6.
Na I Cor: 4,1-16 Paulo escreve: “Irmãos, que todo mundo vos considere
como servidores de Cristo e administradores
dos mistérios de Deus. A este respeito, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis... Irmãos, apliquei esta doutrina a mim e a Apolo, por causa de
vós, para que o nosso exemplo vos ensine a não vos inchar de orgulho, tomando o
partido de um contra outro... O que tens que não tenhas recebido? Mas, se
recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses
recebido?... Escrevo-vos tudo isso, não com a intenção de vos envergonhar, mas
para vos admoestar como meus filhos queridos...”
7.
Qualquer atividade pastoral e
evangélica ela deve ser encharcada de espiritualidade bíblica; ela deve
transmitir as verdades do Catecismo da Igreja Católica. Ele, Elinaldo, se
preparou para ser lançado no meio do povo com um espírito e uma formação que possa
ajudar o povo a se tornar ele também servidor, altruísta, compartilhador das
dores e alegrias dos outros.
8.
O Sacerdote não é, na mente da Igreja, aquele que chegou a ter um “status”,
uma posição privilegiada na sociedade, de honra e, por isso, gozar ou pretender
submissão irrestrita, obediência cega priva de qualquer possibilidade de
discussão ou respeitosa discordância. Ele deve ser o conciliador, sem colocar
em risco a verdade; ele deve ser o amigo de todos com aquela amizade verdadeira
que chega até ao ponto de chamar atenção, fazer uma discreta e amigável
pressão, orientando sempre aos valores evangélicos.
9.
A composição, que vou propor, diz, em forma muito poética e com poucas
palavras, quem é, quem deve ser o Sacerdote. É um texto manuscrito do século
XI, mais ou menos 800 anos atrás, mas válido até agora e para sempre.
O SACERDOTE
Um sacerdote deve ser
ao mesmo tempo pequeno e grande,
nobre de espírito,
como de sangue real,
simples e natural,
como de raiz sertaneja,
um herói da conquista
de si mesmo,
um homem que lutou com
Deus,
uma fonte de
santificação,
um pecador que Deus
tenha perdoado,
de seus desejos o
senhor,
um servidor dos
tímidos e fracos,
mas se curva diante
dos pobres,
discípulo de seu
Senhor,
guia de seu rebanho,
um mendigo de mãos
generosamente abertas,
um portador de
inúmeros dons,
um homem no campo de
batalha,
uma mãe para confortar
os doentes,
com a sabedoria da
idade
e a confiança de um
menino,
voltado para o alto,
os pés na terra,
feito alegria,
revestido de gratidão,
especialista do
sofrer,
longe de toda inveja,
visionário profeta,
que fala com
franqueza,
um amigo da paz,
um inimigo da inércia,
fiel para sempre...
Assim tão diferente de
mim!
(Manuscrito medieval)
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