OBJETIVO GERAL

OBJETIVO GERAL: Criar e fortalecer comunidades eclesiais missionárias enraizadas na Palavra de Deus e nas realidades da diocese, tendo a missão como eixo fundamental.

domingo, 13 de abril de 2014

ZÉ DOCA, PARA ONDE VAIS? 
Olhando os arquivos do meu computador, chamou-me a atenção um artigo que escrevi no ano de 2008. Li atentamente e percebi que é ainda muito atual, aliás mais atual do que nunca, depois das semanas de luto que a nossa Cidade viveu. Infelizmente a ladainha do mortos assassinados só faz é aumentar. Aos nomes contidos no artigo precisaríamos acrescentar outros bem mais recentes: Alexandre, Jane da loja Moto Honda, a mãe assassinada pelo filho... acidentes de trânsito, estupros, roubos... sem conta. E ainda outros, que já passaram no esquecimento da maioria das pessoas. Só ficam na lembrança e no sofrimento do coração dos parentes. Vale ainda a pergunta: Zé Doca, para onde vais? Vale a pena reler e refletir. + Carlo Agora que “a poeira sentou”, os sentimentos de vingança se acalmaram, as fofocas se dissolveram, as tristezas foram um pouco aliviadas com a força da fé e com a amizade de pessoas amigas, familiares e povo em geral... agora, talvez, seja o tempo oportuno e melhor para pensar, refletir com seriedade, sem animosidade, deixando até um pouco de lado o “emocional” que sempre não deixa de atrapalhar. Este ano de 2008 – estamos quase no fim – não foi muito positivo para a Cidade e a sociedade de Zé Doca. 

Lembramos uns acontecimentos que marcaram a todos nós: - em janeiro houve um morto durante um assalto a Banco em Maracaçumé; - mais um homem foi morto à bala em Araguanã; - houve uma chacina na periferia da Cidade de Zé Doca: oito pessoas da mesma família foram violentamente e covardemente assassinadas por um punhado de Reais; - aconteceram alguns (nem lembro quantos!) acidentes de trânsito envolvendo motos, carros, pedestres idosos no atravessar da estrada (será que o novo asfalto trouxe coisas tão ruins?); - também tivemos acidentes involuntários com armas de fogo; - um corpo foi encontrado perto do matadouro; - um acidente abalou a Cidade e a colocou durante três horas em estado de guerra: no fim se contaram dois mortos, diversos feridos, tentativa de linchamento, quebra-quebra no Hospital Municipal com destruição total e absoluta impossibilidade de atendimento nas salas reservadas à emergência, seis viaturas incendiadas, treze pessoas atrás das grades e muito medo; - duas semanas atrás, a Cidade acordou com a notícia do estrangulamento e quebra do pescoço de duas crianças – 9 e 13 anos – jogadas, depois, nas águas barrentas de um açude: o indiciado pelo crime foi preso em flagrante, mas houve tentativa de linchamento... e outras ocorrências chegam aos ouvidos do povo sem que a Cidade chegue a ter conhecimento certo. 

ZÉ DOCA, PARA ONDE VAIS? 
Escrever, por alto, estes acontecimentos, parece até que Zé Doca seja ou tenha-se tornado uma zona de guerra. Mas não é bem assim não. A Polícia, embora com poucos homens e poucas viaturas mal equipadas, fez um trabalho louvável de contenção segurando o que poderia se tornar bem pior. A mão pesada demonstrada trouxe de volta a confiança e a ordem aos cidadãos. A Justiça também recolheu os culpados ou indiciados: ela acalmou e resfriou os ânimos que não tinham mais controle. 

ZÉ DOCA, PARA ONDE VAIS? 

Por que tudo isso? Cada um tem as suas respostas. A Polícia e a Justiça também. A população encontra respostas na base da emotividade. Quem sabe o que poderiam nos dizer os psicólogos, os sociólogos ou os antropólogos? Eu também, bispo desta Cidade e desta Diocese, refletindo, encontrei as minhas respostas ou tentativas de explicação. A perda dos valores fundamentais, humanos e cristãos, é evidente e piora cada vez mais. Às vezes é a inversão dos valores que preocupa e causa estragos na sociedade. A palavra certa seria: estamos vivendo um período de “loucura” que, etimologicamente, quer dizer dar muito valor a coisas que não têm valor, porque não são valores da humanidade em geral (nem preciso falar aqui de valores cristãos!) nem para quem vive e cultiva uma fé cristã séria. Falo em “loucura”, em inversão de valores, e não falo em “doidice”: esta é uma doença e precisa consultar um psiquiatra e procurar um hospital adequado... Exemplo de valores humanos e universais para todos os tempos, todas as idades e todos os homens de todos os tempos: a honestidade, a sinceridade, o respeito pelas pessoas e pelas coisas dos outros ou da sociedade, a educação, o trabalho, a família construída segundo o plano do Criador... 

Frequentemente estes valores são declassados ou rebaixados e prevalece, em seus lugares, a desonestidade (roubo, assalto, subir na vida a todo custo nem que seja passando uma “rasteira” no outro ou pisando e humilhando quem quer que seja), a falsidade, o desrespeito... Esta loucura tem causas: - a grande desigualdade social (uma minoria, que enriquece demais e muito rapidamente, à custa de uma minoria que vive na miséria e na pobreza) alimenta a inveja, a vontade de imitar e de experimentar: “deu certo para outros, por que não pode dar para mim também?”; - a facilidade de mudar de “estado de vida” apostando nos desvalores, favorece a micro e mega criminalidade; - os Meios de Comunicação Social apresentam e evidenciam demais os fatos negativos que, na mente de muitos, parecem se tornar regra de vida, precisando apenas usar “esperteza” (sabedoria mal entendida) para escapar; - a falta de instrução e educação: estes valores deveriam formar e sustentar a sociedade sadia e promover o verdadeiro progresso, mas cadê a frequência, a seriedade e a eficiência da escola e do estudo? - as famílias cada vez mais estão se desagregando: na mesma TV e nas numerosas telenovelas, dificilmente são apresentadas famílias verdadeiras e estáveis: sempre há esposo traindo a esposa, marido procurando outra mulher, sempre o dinheiro é abundante para viagens, restaurantes, festas, casas de luxo, presentes caríssimos...e nunca se apresenta o trabalho como valor e fonte honesta de sucesso e do “subir na vida”; - o incentivo ao sexo em todas as idades tem como única barreira a proteção através da camisinha com propaganda muito bem realizada e apresentada e, sem perceber ou se dar conta, embutido o incentivo à prática sexual em todas as formas: daí as doenças que assolam países, daí gravidez indesejadas e imaturas, daí paternidades e maternidades irresponsáveis...: combater as doenças sexualmente transmissíveis e as gravidez precoces é combater os efeitos e não as causas, quer dizer uma coisa perfeitamente inútil.

Mas dá lucro a muitas grandes empresas. Acrescente-se o momento forte das eleições administrativas municipais, vivido ultimamente por todos nós: durante três meses, toda noite, nos comícios ou encontros ou reuniões, sempre se salientaram, unicamente ou prevalentemente, as coisas negativas, que existem certamente e são muitas e graves, ninguém duvida, mas nunca ou bem pouco se evidenciaram programas, iniciativas, planos para reerguer a sociedade. Isso tudo encharcou o nosso povo, que ficou tinindo de vontade de mudar as coisas e bastou um estopim ou uma faísca para fazer explodir a violência, a insatisfação, a vontade de mudar a qualquer custo e preço. 

ZÉ DOCA, PARA ONDE VAIS? 

Esta atitude não leva a lugar nenhum. Zé Doca, pára para pensar e refletir. Coloca um pouco de Deus no coração, na tua vida, pois a falta de Deus tudo destrói. Não adianta ter muitas e bonitas Igrejas se não há valores, se não se frequenta para escutar a Boa Nova e os valores que Cristo propõe e procurar viver esta proposta divina na família, na escola, na rua... Com certeza teríamos menos famílias chorando e criminosos fugindo. 

ZÉ DOCA, NÃO DELIRAR.

Na língua latina, o verbo “delirar” quer dizer “sair do trilho, sair do sulco”. A tua missão, Zé Doca, é grande e é cristã. Só estes valores podem trazer o que mais tu desejas: paz, honestidade, estima, sinceridade, partilha, bondade, respeito e amor. Nós cristãos católicos, dia 15 de novembro passado, celebramos o Jubileu de Prata de nossa Diocese: 25 anos de existência vivendo uma missão evangelizadora e nos deixando evangelizar. A festa foi grande e bonita. Fazendo memória dos acontecimentos, durante os 25 anos, descobrimos coisas negativas, pecados e omissões – somos povo santo e pecador, como dizemos na celebração da Missa – mas, sobretudo, descobrimos 25 anos de realizações boas, de Evangelho levado a tantas pessoas e vivido com dedicação. Concluímos, na nossa avaliação, que Zé Doca não tem apenas coisas negativas: nela há tanta positividade e acontecem tantos momentos de Bem e de Bom. 

ZÉ DOCA, TU PODES MUDAR DE RUMO.

Deixa o mal, cultiva o bem. Zé Doca tem jeito sim, depende de mim e de você. Estes já são os votos para a próxima festa da Páscoa do Senhor Jesus Cristo.

 + Dom Carlo

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