Dom Fernando Arêas Rifan*
A corrupção é
considerada pela ONU o crime mais dispendioso de todos, causa de muitos outros.
A corrupção propicia a ocupação de cargos por pessoas indignas, manobras
políticas, compra de votos, licitações desonestas, o desvio, a malversação e o
desperdício do dinheiro público, a impunidade, o tráfico de drogas, a sua
veiculação nos presídios etc.
Certa vez, um rei
perguntou aos seus ministros a causa de o dinheiro público não chegar ao seu
destino como quando saiu da sua fonte. Um ministro mais velho, sentado na outra
cabeceira da mesa, tomou uma grande pedra de gelo e pediu que a passassem de
mão em mão até o Rei. Quando a pedra lá chegou estava bem menor. O ministro
então disse: é essa a explicação: “passa por muitas mãos e sempre deixa alguma
coisa”.
“Aquele
que ama o ouro não estará isento de pecado; aquele que busca a corrupção será
por ela cumulado. O ouro abateu a muitos... Bem-aventurado o rico que foi
achado sem mácula... Quem é esse homem para que o felicitemos? Àquele que foi
tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito está reservada uma glória
eterna:... ele podia fazer o mal e não o fez” (Eclo 31, 5-10). São palavras de
Deus para todos nós.
Ao ler o título
desse artigo, pensa-se logo nos políticos. Mas há muita gente, fora da
política, que se enquadra nesse título: quantos exploradores da coisa pública,
quantos sugadores do Estado, que não são políticos! Aí se enquadram todos os
profissionais ou amadores que se corrompem pelo dinheiro. Quem vota por dinheiro é corrupto. Quem vota
apenas por emprego próprio é corrupto. Quem corre atrás dos políticos para
conseguir benesses espúrias é corrupto.
O Papa Francisco tem insistido sobre a diferença entre
pecado e corrupção, entre o pecador e o corrupto. Segundo ele, pecadores somos
todos nós, mas o corrupto é aquele que deu um passo a mais: perdeu a noção do
bem e do mal. Já não tem mais o senso do pecado. Os corruptos fazem de si
mesmos o único bem, o único sentido; negando-se a reconhecer a Deus, o sumo
Bem, fazem para si um Deus especial: são Deus eles mesmos. O Papa lembrou que
São Pedro foi pecador, mas não corrupto, ao passo que Judas, de pecador
avarento, acabou na corrupção. “Que o Senhor nos livre de escorregar neste
caminho da corrupção. Pecadores sim, corruptos, não.” (Homilia, 4/6/2013).
A Igreja proclamou padroeiro dos Governantes e dos
Políticos São Tomás More, “o homem que não vendeu sua alma”, exatamente porque
soube ser coerente com os princípios morais e cristãos até ao martírio.
Advogado, Lorde Chanceler do Reino da Inglaterra, preferiu perder o
cargo com todas as suas regalias e a própria vida a trair sua consciência.
No atual clima de corrupção e venalidade que invadiu o sistema social,
político, eleitoral e governamental, possa o exemplo de Santo Tomás More
ensinar aos políticos, atuais e futuros, e a todos nós, que o homem não pode se
separar de Deus, nem a política da moral, e que a consciência não se vende por
nenhum preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João
Maria Vianney
Nenhum comentário:
Postar um comentário