INTRODUÇÃO
O Canto, a música e a dança sempre foram e continuarão a ser uma das mais expressivas manifestações características da cultura de um povo. A igreja desde os seus primórdios, adotou como elemento integrante da liturgia, ao longo de sua história, contudo, ela quase que se limitou a introduzir um estilo musical estranho á cultura em que o Evangelho era anunciado e proposto como caminho para se chegar ao conhecimento da verdade.
A partir do Concilio Vaticano II, aos poucos a liturgia vai se renovando e os ritmos e instrumentos próprios de cada cultura vão sendo valorizados. Iremos fazer um percurso percorrendo pela história da música na caminhada do povo de Deus e na Sagrada Escritura: antigo e novo testamento; nos primeiros séculos da Igreja, antes e a partir do concilio vaticano II e na igreja no brasil hoje.
A MÚSICA NA CAMINHADA DO POVO DE DEUS
Antigo Testamento
Na Sagrada Escritura encontramos admiráveis poemas e cânticos da experiencia espiritual de um povo que vem de longe, existem mais de 600 referências ao canto e á musica que inicia do Genesis com o canto da criação até a história de Israel, (cf Êxodo 15), passando pelos salmos: orações de súplica, intercessão, agradecimento e louvor.
Novo Testamento
Os salmos orações de súplica, intercessão, agradecimento e louvor foram o livro de cantos do povo de Deus, de Israel, da Virgem Maria e dos Apóstolos. Os inúmeros hinos paulinos e os hinos de aclamação do apocalipse são sem dúvidas um retrato do que era cantado nas primeiras comunidades (cf. Efésios 1,3-14, Apocalipse).
NOS PRIMEIROS SÉCULOS DA IGREJA
Os cristãos dos primeiros séculos da Igreja se reuniam antes do amanhecer e ao cair da tarde. Já no 112 d.C. os pagãos testemunhavam a respeito deles (cf: Santo Agostinho dá bastante ênfase aos Salmos, porém durante esta época cada comunidade tinha um modo e estilo próprio de celebrar e cantar.
ANTES DO CONCÍLIO VATICANO II (Década de 50 e 60)
Neste período, devido o rito da missa ser em latim, quase todas as melodias eram europeias com tradução para a língua portuguesa e tocadas em órgão, era chamada de música sacra ou religiosa, Ex: Tão Sublime, Glória a Jesus, Queremos Deus, ladainhas em latim. Nas celebrações eram os corais da Schola Canthorum que cantavam principalmente as partes fixas da Santa Missa: ato penitencial, glória, santo e cordeiro. A partir de 1960, surgiram iniciativas através das publicações dos salmos e cânticos das fichas de Canto pastoral da Comissão Arquidiocesana de Música Sacra do Rio de Janeiro.
A PARTIR DO CONCÍLIO VATICANO II (1967)
Em 1967 a Instrução da Sé Romana com o Título de Musicam Sacram assim se expressa: “A ação litúrgica reveste a forma mais nobre quando realizada com cantos, e cada ministro exercendo a função que lhe é própria e o povo de Deus participando.
Após o Concilio Vaticano II em 1967 a música sacra passou a ser denominada de música litúrgica. O povo participa, cada ministro exerce sua função que lhe é própria, surgem também as primeiras missas em língua portuguesa, a CNBB se preocupa em organizar encontros e estudos.
Os cantos da CF (Campanha da Fraternidade) de 1978 junto com algumas publicações da CNBB sobre a música litúrgica, marcaram época e colaboraram bastante para a orientação e formação pastorais.
Dois grandes aspectos caracterizam este período:
- A introdução de novos livros litúrgicos e documentos pastorais e abertura da igreja para a dimensão social e sua vida e consequentemente sua liturgia.
-Os livros foram apenas traduzidos e não adaptados e os documentos litúrgicos da CNBB, apesar do seu grande valor, não tiveram a esperada influência na caminhada da vida litúrgica e musical da igreja no Brasil.
A partir do Concilio Vaticano II, algumas instituições e critérios vão inspirando e provocando providencialmente toda uma renovação litúrgica. O Hinário Litúrgico da CNBB, publicado a partir de 1985 em quatro fascículos para todos os tempos litúrgicos, veio contribuir para uma proposta de se cantar a liturgia, ou seja, cantar os textos oficiais da liturgia Romana de forma inculturada.
A partir dos anos 90 a renovação carismática influenciou também na liturgia com seus cantos, provocando mais espontaneidade, alegria e expressão corporal, assim como também trazendo preocupações quanto ao sentimentalismo dos mesmos, desligados da própria corporal, assim feliz.
Anos 90 e 2000
Surge o livro de cantos Louvemos o Senhor e hinários de acordo com o tempo litúrgico vão surgindo e dinamizando as músicas nas missas. Hoje o hinário litúrgico infelizmente pouco conhecido é uma proposta de canto litúrgico, porem seus músicos nem sempre tem o mesmo rosto e estilo.
NA IGREJA NO BRASIL HOJE Documentos da CNBB
A CNBB tem sido mais explícita no que diz respeito à música litúrgica, já em 1976 foi publicado o documento 07 sobre a música litúrgica nas igrejas do Brasil que diz o seguinte:” por exigência de autenticidade, o canto deve ser expressão de fé e da vida cristã da assembleia” (SC 211)” O Canto é a parte necessária e integrante da liturgia” (SC 112)
Treze anos mais tarde o Doc. 43 diz: “Auxilia nossa prece reforçando a Palavra que ouvimos, a linguagem universal da música cantada ou instrumental.
CONQUISTAS E DESAFIOS DA MÚSICA LITÚRGICA NO BRASIL
Conquistas: Enorme quantidade de publicação, e o despertar da igreja para uma nova forma de celebrar e cantar a liturgia.
Desafios: Grupos que cantam sozinhos nas celebrações, falta de formação nos seminários, abusos de comunicação, instrumentos, sons e microfones altos.
4 RAZÕES FUNDAMENTAIS PARA CANTAR A LITURGIA
Razão Teológica: Celebrar Deus em nossa vida. A liturgia Cristã é a Celebração da ação eficaz de Deus uno e trino na vida da igreja e dos fiéis, inserindo-os na comunhão da trindade pela força do Espírito Santo.
Razão Cristológica: Celebrar o mistério pascal do Senhor. A festa do Senhor Ressuscitado, produz alegria em nosso cantar. Do culto da aliança do antigo testamento ao culto da memória viva da páscoa de Jesus.
Razão Pneumatológica: Cantar no Espírito com fervor e alegria. A assembleia que canta no Espírito, faz ressoar um canto que é verdadeiro clamor cheio de fervor e de alegria no espírito.
Razão Eclesiológica: Cantar em Comunidade. O canto é atividade essencialmente comunitária. A Igreja expressa sua realidade de comunhão e participação do canto comunitário, veículo de encontro de Deus conosco e dos fiéis entre si.
Texto: Pe. Luis Henrique Nina Baltazar
Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia pelo Instituto de Estudos Superiores do Maranhão IESMA. Presbítero incardinado da Diocese de Zé Doca-MA
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