Por Dom Fernando Arêas Rifan*
Quarta-feira de Cinzas, começa o
importante tempo litúrgico da Quaresma, no qual a Igreja almeja
que nos unamos mais intimamente ao Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mistério que inclui sua Paixão, sua morte e sua gloriosa Ressurreição.
Neste Ano Santo da Misericórdia, o Papa
Francisco, em sua mensagem para esta Quaresma, toma como modelo Nossa Senhora,
“Maria, ícone duma Igreja que evangeliza porque
evangelizada. Maria, por ter acolhido a
Boa Notícia que Lhe fora dada pelo arcanjo Gabriel, canta profeticamente, no Magnificat, a misericórdia com
que Deus A predestinou”.
E o Papa nos pede que “a
Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para
celebrar e experimentar a misericórdia de Deus (Misericordiӕ Vultus, 17). Com o apelo à
escuta da Palavra de Deus e à iniciativa ‘24 horas para o Senhor’, quis
sublinhar a primazia da escuta orante da Palavra, especialmente a palavra
profética. Com efeito, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo; mas cada
cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio”.
A História da Salvação é a
história da Misericórdia de Deus para com o seu povo: “O mistério da
misericórdia divina desvenda-se no decurso da história da aliança entre Deus e
o seu povo Israel. Na realidade, Deus mostra-Se sempre rico de misericórdia,
pronto em qualquer circunstância a derramar sobre o seu povo uma ternura e uma
compaixão viscerais, sobretudo nos momentos mais dramáticos quando a
infidelidade quebra o vínculo do Pacto e se requer que a aliança seja
ratificada de maneira mais estável na justiça e na verdade. Encontramo-nos aqui
perante um verdadeiro e próprio drama de amor, no qual Deus desempenha o papel
de pai e marido traído, enquanto Israel desempenha o de filho/filha e esposa
infiéis. São precisamente as imagens familiares – como no caso de Oseias (cf. Os 1-2) – que melhor exprimem até que
ponto Deus quer ligar-Se ao seu povo”.
E tudo se resume e engloba
na Encarnação do Verbo: “Este drama de amor alcança o seu ápice no Filho feito
homem. N’Ele, Deus derrama a sua misericórdia sem limites até ao ponto de fazer
d’Ele a Misericórdia encarnada. Na realidade, Jesus de Nazaré enquanto homem é,
para todos os efeitos, filho de Israel. E é-o ao ponto de encarnar aquela escuta
perfeita de Deus que se exige a cada judeu pelo Shemà, fulcro ainda hoje da
aliança de Deus com Israel: ‘Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é
único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e
com todas as tuas forças’ (Dt 6,
4-5)”.
“Portanto a Quaresma deste
Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da
própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de
misericórdia. Se, por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos
irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as
obras espirituais tocam mais diretamente o nosso ser de pecadores: aconselhar,
ensinar, perdoar, admoestar, rezar...”
*Bispo da Administração Apostólica São João Maria
Vianney
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