Na noite deste sábado (05/10/2025), vivemos um momento de profunda emoção e beleza na nossa Basílica São Sebastião: a apresentação oficial da nova pintura da Santa Ceia, na cúpula central do templo.
A obra, criada pelo artista italiano Florenzo Faccin, foi apresentada ao público com explicações detalhadas sobre cada elemento que compõe essa magnífica pintura, repleta de simbolismo e fé.
Com sensibilidade e respeito à história da nossa comunidade, o artista incluiu duas homenagens especiais na obra:
À direita, o Pe. Augusto Mozzett (in memoriam), o grande responsável pela construção desta Basílica.
À esquerda, o Mons. Mario Racca, (in memoriam), figura marcante na vida desta igreja e na história da cidade de Carutapera.
Essa pintura não é apenas uma expressão artística, mas um testemunho de fé, gratidão e memória — eternizando na arte a história viva da nossa Paróquia de São Sebastião.
Texto: Pe. Agnaldo
Fotos: Pascom
Discurso - Fiorenzo Faccin
Boa noite a todos.
Sou Fiorenzo Faccin, um pintor italiano da província de Turim. Não sou profissional, mas gosto de pintar desde sempre, tanto que, ainda hoje, aos 72 anos, estudo para me aprimorar. Quero lhes contar como nasceu a ideia de realizar um sonho. Um sonho que, inicialmente, era apenas da Cleude, mas que aos poucos também se tornou meu.
Numa noite, há dois anos, nossos primos Guido e Cleude vieram me visitar na Itália e me propuseram realizar uma obra minha na Basílica de Carutapera, no Brasil. Minha resposta foi: “Bem, não sei, preciso pensar!”. Afinal, Carutapera não fica exatamente na esquina, e eu precisava entender de que tipo de obra se tratava. Então Cleude me explicou que a Basílica precisava de uma restauração geral, que as pinturas já existentes estavam danificadas e, muito provavelmente, teriam que ser refeitas. Ela me mostrou fotos da igreja e fiquei logo impressionado com a sua imponência e beleza.
Em especial, chamou minha atenção a pintura da cúpula, atrás do altar-mor, que representava a Última Ceia. Percebi já pelas fotos que a pintura estava bastante deteriorada, provavelmente por infiltrações de água causadas pelas chuvas de inverno, frequentes e intensas. Assim, comecei a imaginar a possibilidade de ser eu o responsável por pintar uma nova Santa Ceia, seguindo o sonho de Cleude, realizando uma obra com técnica realista e colocando meus dons à disposição para enriquecer a Basílica com uma nova obra de arte.
Alguns meses depois, exatamente em novembro do ano passado, depois de consultar minha família, decidi com minha esposa fazer uma viagem a Carutapera para ver a igreja e avaliar pessoalmente o trabalho que teria que enfrentar caso aceitasse o desafio. Depois de ficarmos alguns dias hospedados em Belém na casa dos nossos primos Guido e Cleude, partimos todos juntos rumo a Carutapera.
Lá conhecemos o Padre Mario, uma pessoa maravilhosa. Era um prazer ouvi-lo contar sobre sua vida e sentir nele o amor que tinha por aquela terra e por seu povo. Infelizmente, naqueles dias, o pároco Padre Agnaldo já estava internado em São Luís para uma pequena cirurgia, por isso não pudemos conhecê-lo pessoalmente. De volta à Itália, decidi aceitar a missão, e foi assim que o sonho de Cleude se tornou oficialmente também o meu.
O primeiro passo foi realizar uma prova do quadro em tela com tinta a óleo. Para isso, eu precisava de modelos disponíveis para recriar a cena de maneira mais realista possível. Comecei então a procurar possíveis apóstolos entre meus familiares, mas também entre os cidadãos de Piobesi. Consegui encontrar 13 pessoas com as características dos personagens que queria representar.
O oratório paroquial da minha cidade, com o apoio do nosso pároco, padre Daniele, me forneceu os trajes e um espaço suficientemente amplo dentro do oratório para recriar a cena ao vivo, enquanto a associação Musica Insieme me cedeu o sistema de iluminação para criar a atmosfera adequada. Também entrei em contato com um amigo fotógrafo, Paolo Mengozzi, pois precisava de fotos altamente profissionais para ter o máximo de detalhes possíveis dos modelos a serem pintados.
Com todos reunidos, em uma noite no oratório, e com a ajuda da minha esposa e de Roberta Pettiti (que tinha acesso ao local), vestimos os modelos da forma mais realista possível e encenamos a ceia. Foi uma emoção indescritível. Bastou eu dizer: “Imaginem qual foi a reação dos 12 quando Jesus disse: ‘A mão daquele que vai me trair está comigo à mesa’”, para que os apóstolos-atores compreendessem a cena e se entregassem imediatamente aos seus papéis. Uns expressaram surpresa e acusação, outros desconfiança mútua. Era exatamente o que eu queria!... Enquanto o fotógrafo captava cada emoção!
Assim que recebi as fotos, comecei a pintura de prova sobre a tela. Mesmo sendo apenas um estudo, o resultado é uma pintura a óleo completa, que pretendo doar à igreja da minha cidade, Piobesi Torinese. Haverá, assim, um fio que ligará Piobesi a Carutapera, pois em suas respectivas igrejas existirão duas obras quase idênticas, com os mesmos personagens reconhecíveis: cidadãos de Piobesi e um brasileiro — Alessio, filho de Cleude e Guido.
O passo seguinte, depois de definir a data da partida para o Brasil, foi preparar os desenhos em tamanho natural, para que, uma vez no local, eu pudesse transferi-los para a cúpula e passar o quanto antes às cores, já que o tempo era limitado. Foi um trabalho preparatório de vários meses, mas necessário para enfrentar sozinho uma obra tão grandiosa: estar bem preparado e com as ideias muito claras. Pintar uma cúpula não é pouca coisa, principalmente quando se deseja obter certos resultados.
A obra hoje está concluída. Trabalhei todos os dias, desde cedo até à noite, por cerca de 40 dias. Infelizmente, durante nossa permanência, a cidade de Carutapera foi abalada por duas grandes perdas em pouco tempo: a morte súbita e precoce da esposa do prefeito e do Padre Mário Racca, o que nos afetou diretamente por sermos parentes de seus sobrinhos Guido e Cleude.
Não me resta senão agradecer a todos vocês pela hospitalidade que reservaram a mim e à minha esposa. Agradeço ao Padre Agnaldo por me dar esta oportunidade e por nos acolher na casa paroquial. Agradeço a Guido e Cleude pela parte logística, pelos contatos, pela viagem e estadia em sua casa em Belém, e por terem me proposto e confiado a realização desta obra. Agradeço a todos os colaboradores da casa, que não nos deixaram faltar nada.
Um agradecimento especial ao meu assistente e "anjo da guarda", Wellington, que foi de grande ajuda durante toda a execução da pintura.