HAVIA MISERICÓRDIA NAS PÁGINAS DAQUELE LIVRO
Rodrigo de Souza Santos
Havia um lugar especial que se tornou um refúgio em minha busca interior: a Capela de Vidro. Um santuário de paz, com suas paredes transparentes que permitiam a entrada suave da luz, do sol, criando um ambiente celestial. As cores eram encantadoras e se espalhavam pelo chão em um espetáculo sem igual, enquanto o ambiente vibrava com uma serenidade divina, minha alma ali se rejubilava com uma paz profunda.
Foi ali, naquela serenidade, que percebi que muitas vezes a solidão não consiste necessariamente em estar sozinho, mas em estar vazio. Explico: vazio de Deus, vazio da adoração vazio da comunhão com Aquele que o criou. Não sei nem ao certo descrever o que sinto cada vez que vou à Capela de Vidro. Sei que quando não vou, sinto-me exatamente vazio como há pouco descrevi. Por isso, esforço-me para que mesmo em meio à correria de cada dia, eu posso muitas vezes ir visitá-la.
O aspecto mais intrigante que ela possui são os espelhos estrategicamente posicionados. Não tem como entrar nela e não ser visto, ou mais especificamente, ver-se. Em todos os seus espelhos, eu mesmo vejo-me refletido. O detalhe é que não são simples reflexos; são reflexos de um eu que muitas vezes desconheço, pois se constitui mistério e mais se assemelha ao Divino que todos os dias ali busco.
Ao contemplar meu próprio reflexo, vejo-me não apenas como eu era, mas como posso ser. É verdadeira jornada interior, onde cada espelho conta uma história, um trecho da minha vida e revela uma verdade escondida no fundo do meu ser. Em um dos vitrais magnificamente decorados, a luz do sol projeta uma imagem especial: Jesus Misericordioso. Seu olhar compassivo penetra as profundezas da alma, enquanto Suas mãos estendidas emanam uma bondade que transborda os limites da Capela de Vidro.
Durante uma dessas visitas à Capela de Vidro, recebi um presente peculiar das mãos de um homem que, de tempos em tempos, aparece em minha vida. Na verdade, creio que nunca se ausentou, eu que às vezes não percebo sua presença. Esse homem, cuja presença é um tanto enigmática e profundamente divina, tem o costume de fazer-me visitas frequentes. Ele sempre traz consigo algo especial, algo que serve de guia para minha jornada espiritual e fortalecimento da minha fé.
Dessa vez, enquanto eu estava na Capela de Vidro, entregou-me um livro com uma capa simples mas repleta de significado. O título, gravado em letras douradas, chamava-se "Aquele que o tratou com misericórdia". Havia no plano de fundo a imagem de um homem ferido ensanguentado. Curioso e ansioso por desvendar as páginas dessa obra, decidi que ao adentrar a Capela de Vidro, onde a luz do sol dançava em reflexos prismáticos, levaria aquele livro para que pudesse fazer minha adoração e logo após meditá-lo.
Que livro fantástico! Aliás, seus presentes eram sempre maravilhosos! Sabe aquelas obras literárias fabulosas das quais você não sabe ao certo se o narrador é personagem ou observador? Eram tão minimalistas e bem entrelaçados os elementos narrativos que não consegui desprender os olhos daquela obra. Logo virou meu livro de cabeceira e à medida que avancei na leitura entendi que deveria torna-se um itinerário de vida, uma proposta a ser amadurecida dia após dia e assim, como fez o bom samaritano que a obra fazia menção, colocado em prática.
Quem seria capaz de largar tudo que tinha de ocupação para ocupar-se exclusivamente de um estrangeiro que apareceu ferido e fragilizado à sua porta? Aquele homem o foi! No livro, havia detalhado este exemplo que fundamenta-se em uma das parábolas que o referido homem havia me contado em outras ocasiões e nem sequer eu havia percebido. Talvez eu estivesse muito ocupado comigo mesmo e não atentei-me para olhar ao lado, aquele que estava ferido. Percebi ainda ser aquela uma atitude comum da nossa humanidade, e que quando assim agimos nos assemelhamos aos tantos que passaram pelo caminho e ignoraram aquele homem.
Basicamente, a narrativa do livro está fundamentada na passagem bíblica presente no Evangelho de São Lucas, capítulo 10, versículo 37. Nesse trecho, Jesus responde à pergunta de um mestre da Lei sobre quem seria o próximo. Ele conta a parábola do bom samaritano destacando como aquele que tratou o homem ferido com misericórdia foi verdadeiramente próximo dele.
Nossa, quantas reflexões! O que falar então do outro homem, que pagou os cuidados e a hospedaria de um desconhecido? Para o tal Jesus, que o homem que me visitava com insistência também falava. Ele, sendo inocente, deixou-se ferir para salvar os que nem sequer conheciam e o desprezavam. Seu destino foi mais cruento do que o do homem ferido que foi resgatado, mas era tão poderoso e divino que nem sequer a maior lástima humana (a morte) o fez parar, Ele ressuscitou e venceu-a.
Neste mesmo livro, havia ainda menções ao que o homem que me visitava chamou de "Expoentes da Misericórdia". São santos da Igreja Católica - leia-se por santos, aquelas pessoas virtuosas que alcançaram notoriedade na vivência da fé cristă através do seu testemunho de vida - passo a passo, destacara a vida de cada um deles em uma narrativa envolvente e encantadora. Aliás, espero que eu esteja conseguindo aqui, bem sintetizar tantas informações e emoções que aquela experiência me trouxe, toda essa narrativa aconteceu em algumas horas, enquanto eu adorava o Santíssimo Sacramento e recebi a visita, e posteriormente na leitura que empenhei em fazer do livro " Aquele que o olhou com misericórdia", o grande presente que recebi naquele dia.
Amo narrativas interconexas, que se entrelaçam não só no texto, mas em fragmentos da nossa própria vida. Sim, acho que empolguei um pouco... vou dizer quais eram os santos que haviam descritos nos capítulos do livro e fazer deles uma breve apresentação. Ao folhear as páginas do livro, mergulhei em um relato envolvente e cheio de profundidade. A narrativa se desdobrava diante de mim como um tapete estendido, revelando os caminhos da misericórdia divina através da vida de personagens extraordinários.
Enquanto eu me aprofundava nas palavras, percebi que a história estava entrelaçada com os nomes de santos que, de alguma maneira, personificavam a misericórdia de Deus. Dulce, Faustina, João Paulo e Teresa de Calcutá tornaram-se protagonistas de uma narrativa que transcendia o tempo e o espaço, e o que todos eles tinham em comum é o fato de trilharem com maestria este Caminho de Misericórdia.
A primeira personagem que surgiu diante de mim foi Dulce, conhecida como Santa Dulce dos Pobres. Sua vida foi um testemunho vívido da misericórdia, dedicando-se aos menos favorecidos e oferecendo amor aos marginalizados. Seu legado resplandeceu como um farol de compaixão, guiando-me para compreender a grandiosidade da misericórdia nas ações mais simples.
Logo após, mergulhei na vida de Santa Faustina, a Apóstola da Misericórdia. Seu relacionamento íntimo com Jesus e a missão de divulgar a mensagem da Divina Misericórdia revelavam que a misericórdia não é apenas um atributo de Deus, mas uma fonte inesgotável de esperança para todos nós. Cada página ressoava com as palavras: "Jesus, eu confio em vós."
O livro continuou a desvendar a vida de São João Paulo II, um Papa que se tornou conhecido como o "Papa da Misericórdia". Sua vivência das adversidades do século XX e seu chamado à humanidade para abraçar a misericórdia ecoavam como uma prece constante. Seu pontificado trouxe a consciência de que, mesmo em meio às trevas, a misericórdia de Deus é uma luz que nunca se apaga.
Por fim, a história se voltou para Santa Teresa de Calcutá, a Missionária da Misericórdia. Seus passos humildes nas vielas empoeiradas de Calcutá ressaltaram que a verdadeira misericórdia é encontrada nos gestos simples de amor. Ela ensinou que, ao servir os menos favorecidos, encontramos o próprio Cristo. A cada capítulo, as vidas desses santos entrelaçavam-se de maneira única, formando uma tapeçaria de misericórdia que se estendia até os dias atuais. Enquanto eu lia, senti-me envolvido por uma corrente de compaixão, como se a misericórdia divina estivesse, de fato, tocando minha vida.
À medida que as páginas do livro da misericórdia se desdobravam diante de mim na serena atmosfera da Capela de Vidro, percebi que estava imerso em algo maior do que uma simples leitura. As vidas de Dulce, Faustina, João Paulo e Teresa convergiam em um ponto de encontro, onde a misericórdia divina se manifestava em toda a sua plenitude. Era como se cada página virada fosse um convite para que eu também me tornasse um instrumento da misericórdia, espalhando amor e compaixão em meu próprio caminho.
Ao erguer os olhos para o vitral que retratava a imagem de Jesus Misericordioso, senti- me envolvido por uma profunda sensação de paz e gratidão. Era como se o próprio Cristo estivesse ali, presente em cada palavra lida, em cada vida testemunhada. E então, num instante de epifania, compreendi que a verdadeira essência da misericórdia residia em nosso próprio encontro com Jesus, em nosso desejo sincero de nos rendermos ao amor infinito que Ele nos oferece.
Com o coração transbordando de emoção, fechei o livro, sabendo que essa jornada pela misericórdia não teria fim. Era apenas o começo de uma vida renovada, de um compromisso renovado de viver cada momento como um testemunho do amor de Deus. E enquanto saía da Capela de Vidro, senti-me impelido a levar adiante essa mensagem de esperança e compaixão, sabendo que, assim como aqueles santos antes de mim, eu também poderia ser aquele que trata os outros com misericórdia. Dentro de mim ressoava a frase que aprendi no livro: "Jesus, eu confio em vós!" Pergunto-te, caro leitor (a), você tem 1 minuto para partilhar com o Espírito Santo e entrar na sua Capela de Vidro? Você está disposto a ler o livro "Aquele que o tratou com misericórdia" e colocar em prática seus ensinamentos?
Abaixo, o conto vencedor, pode ser apreciado pela declamação de Elisa:
Agradeço pela oportunidade de ter participado do concurso e muito mais do que ficar feliz pelo resultado, alegro-me pela iniciativa e da mesma forma parabenizo todos que participaram e abraçaram junto com Dom João Kot esta iniciativa. Deus abençoe a todos e nos ajude a colocar nossos dons à serviço da Igreja e da evangelização, sobretudo daqueles que ainda não fizeram uma experiência verdadeiramente e profunda com a Pessoa de Jesus Cristo. Obrigado!
ResponderExcluir