OBJETIVO GERAL

OBJETIVO GERAL: Criar e fortalecer comunidades eclesiais missionárias enraizadas na Palavra de Deus e nas realidades da diocese, tendo a missão como eixo fundamental.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

3° LUGAR NA CATEGORIA DE CONTOS - PE. ELINALDO NUNES CARDOSO

 

No II Concurso Literário de Zé Doca, tivemos o Pe. Elinaldo Nunes como terceiro colocado na categoria de contos. Segue abaixo o conto:

PARUÁ: A NOVA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO


Pe. Elinaldo Nunes Cardoso


"Nada morre. Tudo se transforma." Repetia na prisão constantemente o antigo cacique Paruá, na verdade um ensinamento de seu pai o velho Tury-Açú. Enquanto isso, Padre Figueira estava convencido que Paruá iria aceitar o batismo assim como suas mulheres que agora se chamavam Teresa e Luzia e os demais indígenas sobreviventes e tentava mais uma vez convencer o índio:

- Meu filho, aceite nosso Senhor bom Deus, saia desta vida pecaminosa e abandone estas duas mulheres e se redima com a água do santo batismo.

Paruá, mesmo compreendendo poucas coisas que o velho padre lhe dizia, ainda valorizava os ensinamentos de seu pai e se lembrava de suas palavras:

-Meu Paruá, os brancos não entendem que Deus é como o mar em que todos os rios desaguam nele. Embora nós o chamemos com nome diferente, Deus é Deus em qualquer lugar. Mas os brancos acham que só eles estão certos.

Então, Paruá lembrava também do tempo que os indígenas habitavam por todas as partes até a chegada do Capitão Bento e seus soldados. Uma chegada que trouxe queimadas às cabanas dos indígenas e morte às mulheres e crianças. E os índios, por sua vez, liderados agora por ele Paruá, tentavam reagir, mas enquanto os soldados brancos vinham com espingardas e outras armas de fogos, os indígenas usavam arcos e flechas.

Enquanto isso, Padre Figueira se orgulhava pelo seu apego a tradição e por ter trazido os últimos indigenas sobreviventes daquela região para a religião crista. Entre eles, a família do famoso Tury-Açú, como Tracuá que recebeu o nome de Luzia e Urubuçú, que se tornou Teresa; ambas eram esposas de Paruá. Também o índio Levi, que agora desejava ser padre e estava sendo preparado para isto.

Paruá, depois de um tempo na prisão, chegou à conclusão de que aquelas palavras que o padre dizia no batismo não iriam tirar sua fé e nem lhe fazer uma outra pessoa. Então, mandou chamar o Padre e disse que aceitava ser batizado. O padre condicionou o batismo de Paruá com a separação de suas duas mulheres. Tendo a resposta afirmativa, imediatamente providenciou os padrinhos, mandou darem banho no índio e lhe vestirem roupa adequada.

Assim, naquela manhã, batizou-se o pobre infeliz e lhe deram o nome de José. Não se deram conta, porém, do significado do nome na bíblia. Justamente José um profeta entre os irmãos e da cadeia do Egito saiu para uma grande missão de governar o Egito num período de grande sofrimento e escassez. Seria assim uma profecia sobre a vida de Paruá?

Levi, o índio batizado que agora era coroinha e se preparava para ser sacerdote ajudou em toda cerimônia e se imaginou sendo um grande padre que converteria todos os seus irmãos indígenas para a religião de Cristo.

O tempo passou e a floresta tinha uma tonalidade de pacificada pois os índios tinham sidos trazidos para Deus e até mesmo seu Cacique agora era um cristão. Naquela manhã, parecia tudo normal até Levi presenciar Paruá comendo cru o coração de uma anta que tinha acabado de caçar. Esta pratica repugnou Levi. A ideia de um cristão fazer aquilo só poderia ser heresia e deveria ser denunciada ao Padre Figueira.

Também haviam comentários sobre Paruá continuar se relacionando com suas duas antigas esposas. Isso assombrava Padre Figueira, pois a ideia de um cristão ter duas esposas era absurda e as lembranças que os três afirmavam que eram descendentes do famoso Tury-Açú assombrava o velho padre, apesar de não ser claro o nível de parentesco dos mesmos, pois não se sabia ao certo se as duas mulheres eram sobrinhas de Paruá ou até mesmo irmās.

Diante disto, Padre Figueira mandou os soldados capturar Paruá para um julgamento dessas suspeitas, no entanto, quando os soldados chegaram a cabana de Paruá, o índio já tinha fugido.

Naquele dia a floresta parecia um paraíso de tão calma que estava. Paruá atentamente contemplava cada árvore e planta que encontrava pelo caminho do antigo lugar de cultos indígenas, um santuário sagrado, queria consultar seus antigos deuses sobre seu destino e fazer com tudo aquilo que estava acontecendo na sua vida e de seu povo. Paruá não sabia aquela região agora era bastante perigosa, pois havia vários assaltantes e todos tipos de mal fazeres que viviam de pequenos roubos e ataques a viajantes que por ali passavam. Foi neste clima de nostalgia ao decorrer da viagem que Paruá, então percebeu o mato mexer e, antes de se dar conta, estava sendo atacados por ladrões que estavam numa tocaia esperando o primeiro viajante que por ali passasse. Lhe levaram as poucas coisas que tinha consigo e depois de lhe espancaram muito, jogaram-lhe a beira do caminho para morrer sozinho.

Ferido na beira da estrada Parua agonizava e seus pensamentos voavam como uma andorinha no verão. E no meio de seus desvarios pensava no velho seu pai Tury-Açú e tantas outras coisas e momentos de sua vida.

Enquanto isso, escuta uns passos longe que cada vez mais vão se aproximando. Percebe que é Levi, um parente seu. Então, imagina que o socorro estava próximo, com certeza. No entanto, Levi, num olhar distante se lembra que está indo a outro posto de guarnição para estudar com um padre que estava por lá estes dias e não podendo se atrasar para seus estudos vai por outro caminho se distanciando de onde estava Paruá.

O tempo passa mais lento do que Paruá lembrava. Com o tempo Paruá escuta os pássaros voado como se se aproximasse alguém e com o tempo escuta passos e pensa: com certeza sua agonia estava próxima do fim. De repente está ali próximo Padre Figueira, um homem de Deus com certeza não negaria socorro. Paruá ergue a mão em direção de onde esperava o socorro e faz um grunhido como alguém que tenta falar e não consegue. O Sacerdote muito ocupado em seus afazeres não poderia perder seu tempo com um moribundo herege e seguiu sua viagem.

Esperança era algo que Paruá não tinha mais naquele momento e quando parecia tudo perdido estava ali mais um passante e não era ninguém mais do que o Capitão Bento. Paruá não conseguia ver direito, mais tinha certeza que era o capitão e seu coração encheu de ódio diante daquele que matou seus parentes e acabou com sua aldeia e se lamentava não poder vingar o seu povo naquela situação que se encontrava. Foi então que o Capitão se aproximou do moribundo e teve compaixão dele, limpou suas feridas e o colocou em seu cavalo. Levou-o para a guarnição mais próxima e recomendou que cuidassem do índio até quando ele voltasse.

Ali numa rede Paruá variava com alguns momentos de lucidez e vinha em sua mente as lembranças de seu Pai, o ódio que sentia pelo Capitão Bento e não compreendia porque o mesmo lhe socorreu. Lembrava do seu povo e aos poucos sentia suas forças voltarem. No entanto, seus pensamentos voavam e ele só se perguntava: Onde estava Teresa e Luzia? O que aconteceu com elas?

E Paruá tinha certeza que deveria procurar suas esposas e que não poderia morrer e sim se transformar, se transformar em algo novo diante de toda aquela nova realidade que ele estava passando e seu povo e concluía seus pensamentos com a famosa frase de seu pai Tury-Açú: "Nada morre. Tudo se transforma."


Abaixo, um trecho do conto proclamado por Soraya Aires:







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